domingo, 6 de dezembro de 2009

Curso de sobrevivência

Realizou-se durante os meses de Novembro e Dezembro o 1º Curso de Sobrevivência, ministrado aos alunos do Curso de Salvamento Aquático, na região do Porto.
Após as aulas teóricas dadas em sala, os alunos tiveram a experiência prática de várias técnicas de sobrevivência. Pese a ausência de Sol e a presença de forte chuva num dos dias, face à altura do ano decorrida, o curso correu bem, recolhendo um feedback muito positivo por parte dos alunos. A formação, de carácter extra-curricular, veio complementar a excelente componente técnica de salvamento, tornando este grupo no único curso de salvamento aquático dotado de formação de sobrevivência ao nível nacional.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O KIT DE SOBREVIVÊNCIA 2


Antes de mais convém reforçar a ideia de que um kit (seja do que for) deve ser construído por nós, ou pelo menos contar com a nossa participação na sua construção.
Depois, sugerir a importância de construir 2 kits, um de treino e um para utilização, podendo um ser de menor qualidade (o de treino).
Existem muitos tipos de kit que podem incluir muitos itens. Sugiro que se comece por um pequeno e simples. Pois, será sempre o que nos vai fazer companhia nas actividades.
Para construir um kit de sobrevivência, devemos fazê-lo de forma sistemática, respondendo a às (eventuais) necessidades, começando pelas básicas e evoluindo (conforme o tamanho possível) para as secundárias.
Existem, contudo, alguns instrumentos que não devem faltar num kit. São eles:
Faca, espelho sinalizador, corda, pedernal (firesteel)/isqueiro, manta térmica, saco (s) plástico.
Estes itens respondem a necessidades básicas, como protecção, sinalização, aquecimento (hipotermia), água, fogo.
Esta lista poderá ser acrescida, de imediato, por outros itens, como: permanganato de potássio, pastilhas potabilizadoras de água, bússola, lanterna, apito, entre outros, dependendo do meio ambiente em que nos deslocamos.
Sempre que possível, devemos levar um cantil, em particular um do tipo crusader cup kit (usado pelos SAS ingleses) que contém um recipiente para cozinhar e ferver água. A única razão pela qual não o considero essencial e básico, é pelo seu tamanho, que sai do conceito de compacto, não sendo possível introduzi-lo num kit pequeno e básico, como uma pequena bolsa. Mas sempre que o espaço o permita, podemos incorporá-lo, ou introduzir os outros itens do kit na bolsa deste.
Mas o primeiro passo após escolher, será experimentar, treinar e personalizar ao máximo o nosso kit. Pois podemos não precisar dele 2ª vez…

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Hipotermia por imersão, resgate


O manuseamento da vitima de imersão, aquando do resgate pode ser um momento crítico.
Um corpo imerso, está sob a pressão hidrostática, que é proporcional à profundidade. Ou seja, quando uma vitima se encontra imersa, a pressão nela exercida pelo líquido é maior nas pernas que no tronco. Essa diferença, que mantida no tempo (durante a espera de socorro num naufrágio) aumenta e se consolida, pode tornar-se um factor fatal.
O que acontece é que se conjugam 2 factores importantes: o frio e a pressão hidrostática, que provocam uma concentração do sangue no tronco e cabeça, junto aos orgãos vitais. Ora se isso pode ajudar a manter as funções vitais, na hora do resgate pode jogar contra a vítima (principalmente no resgate aéreo). No momento em que a vítima é içada da água, o aliviar (diferença) de pressão causa um deslocamento do sangue para as pernas, afastando-se rapidamente do tronco. Isto causa uma grande e brusca redução da temperatura e volémia, que muitas vezes causa a morte.
Durante anos a Royal Navy (inglesa) via morrerem muitos náufragos nos seus resgates (porque era içados na vertical), até que um cirurgião se submeteu ele próprio a um resgate, submerso em águas frias. Verificou o que foi explicado e é por essa razão que, hoje, as vitimas são içadas na vertical.
Este exemplo deve estar sempre presente na hora de retirar alguém de água fria. E a pergunta: "há quanto tempo está submersa?" antes de a retirar, não se torna descabida de prepósito.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Hipotermia por imersão



A temperatura corporal normal ronda os 37º C. Ocorre hipotermia, ou seja, descida dessa temperatura, quando os valores passam a barreira dos 35º C.

A hipotermia tem 3 estados:

  • ligeira - aprox 35º C

  • moderada - aprox 32º C

  • severa - menos de 28º C
Sobre os seus efeitos, sinais e sintomas, escreverei mais tarde.

A imersão em água fria é uma das formas mais rápidas de perder calor corporal, pela qual um indivíduo passa rapidamente para um estado de hipotermia severa.

Na água a temperatura corporal perde-se cerca de 25 vezes mais rápido que no ar (desconsiderando o vento). Adicionando a isto, o facto de, normalmente, as pessoas cairem nela sem a devida protecção: vestuário isotérmico e flutuante; podemos verificar que a hipotermia se instala de forma muito rápida. Perante uma situação de imersão em água fria, deve retirar-se rapidamente a pessoa , do meio líquido, sem movimentos muito bruscos (se for em gelo, deve rastejar-se e assim sair da placa gelada), retirar-lhe as roupas molhadas e colocá-la num local abrigado de humidade ou vento, vestindo-a com roupa seca ou envolvendo-a numa manta isotérmica (manta de emergência). Outra forma de a aquecer é colocá-la em contacto directo com outras pessoas, aproveitando o seu calor humano. Isto é válido para um auto-salvamento, no qual, além destas medidas, tentar secar as roupas (com um fogo, ou ao sol) e depois de aquecidos voltar a vesti-las. Por isso a importância de levar sempre uma muda e acondicionada num saco plástico, ainda que dentro de uma boa mochila.

NUNCA se deve: dar bebidas quentes, fornecer uma fonte de calor muito forte à vitima, movimentar demasiado a vitima, deixá-la sozinha (apenas se necessário para pedir ajuda), desistir de salvar a vítima.

Deve SEMPRE: aquecer-se LENTAMENTE a vítima, pedir ajuda, estar atento aos sinais vitais e monitorizar a sua evolução.

Nos acidentes náuticos, é frequente os náufragos terem de esperar por salvamento. Nessa situação, a par de vestuário adequado, devemos colocar-nos na posição fetal (ou HELP) sem realizar movimentos e aguardar a chegada de ajuda. Essa posição, além de confortável, protege os locais de maior perda de calor: cabeça, pescoço, axilas, tórax e virilhas.

domingo, 14 de junho de 2009

Água, sabor


Alguns sabores podem provocar o vómito.
Algumas das questões que se colocam sobre a água são sobre a sua purificação, em particular sobre o sabor que terá após adição de uma pastilha purificadora. Não vou aqui estender-me sobre os métodos de purificação, pois mais tarde o farei. Contudo, deixo apenas uma dica sobre o assunto. Quando purificamos água com um pastilha própria para o efeito, devemos ter em conta alguns pormenores:

  • normalmente 1 pastilha chega para 1 litro de água;

  • devemos aguardar cerca de 30 minutos após a sua adição, antes de beber;

  • devemos procurar usar 2 cantis, enquanto um purifica (30 min), temos o outro disponível para beber;

  • muitas vezes, a pastilha não invalida a necessidade de ferver a água;

  • as pastilhas, devido à sua constituição reactiva, devem ser bem acomodadas e protegidas, especialmente quando circulam ao ar livre;

  • após adicionar uma pastilha, a água poderá saber um pouco a cloro (nada que nunca tenhamos sentido numa piscina), uma dica é usar umas pastilhas efervescentes com sabor (laranja, etc), que adicionadas à água, não interferem com a purificação e eliminam o sabor desagradável.

Podem ser escolhidas pastilhas com cafeína, ou outros extras, ou melhor, pastilhas com sais e minerais, pois são esses que mais perdemos na transpiração. Em vez das pastilhas, pode ser usado pó, como Tang, ou outros.
MUITO IMPORTANTE é nunca beber nada que nos faça vomitar. A quantidade de água perdida pelo vómito pode ser fatal. O sabor a cloro pode provocar o vómito.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Kit de Sobrevivência

Antes de me alongar em sugestões sobre o que se deve, ou não, colocar num kit de sobrevivência, acho pertinente que as pessoas tentem pensar no que será preciso escolher para a sua construção.
Contudo, deixo 2 orientações iniciais:
  1. cada vez que se escolhe uma peça para o kit, pensar a que necessidade ela dará solução;
  2. seguir a mnemónica dos 4 P's, sugerida por McCann, D. John (ex instrutor-chefe de sobrevivência do Wilderness Learning Center em Nova Iorque e actualmente dono do seu próprio negócio: Survival Resources).

Plan it: pensar no seu prepósito, destino, tamanho, etc;

Pick it: dispensar algum tempo a pensar nos seus componentes e nas funções destes;

Pay for it: pensar no orçamento que temos disponível ou no dinheiro que queremos gastar nele (pode ser esse o desafio)

Pack it: eleger o recipiente, bolsa, ou outro objecto onde irão ser armazenados (compactados) os componentes eleitos para o kit.

E para começar, este é o melhor exercício para iniciarmos a construção de um kit.

Bom trabalho!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Preparação para sobreviver

A maioria das pessoas a quem se fala de sobrevivência, pensam imediatamente em aventura, comer bichos, passar mal, ser largado no meio do deserto ou de uma selva tropical. Muito por força de programas de televisão como o Survivor, ou outros filmes. Contudo, desconhecem, que num local a poucos quilómetros de casa, onde a rede do telemóvel não chegue, alguém se pode perder e numa noite fria, sem equipamento, pode ser suficiente para morrer.
Se falarmos do tema a pessoas mais dentro da esfera do Outdoor, pensam logo no kit ou outro equipamento de sobrevivência, fogo, filtrar água, manta de sobrevivência, etc. Já é um progresso, mas continua a faltar a essência da sobrevivência.
Grande parte das pessoas, desconhece que um ser humano, despojado dos seus bens habituais, da facilidade de abrir uma porta e retirar água e comida, de ir ao bolso e telefonar, de olhar para o lado e ver sempre alguém, fica muito desorientado, sente-se triste, injustiçado, sozinho, abandonado. Ao nível físico, e aliado às sensações antes mencionadas, a falta de alimento e de água, faz com que um percurso de 50 metros, pareça uma prova de corta-mato. O desgaste físico e psicológico, são um primeiro grande obstáculo com que o uma pessoa se poderá debater numa situação de sobrevivência. Após incorporar (e preferencialmente, experimentar) esta noção, o próximo passo, será aprender e praticar as técnicas que farão frente às adversidades de uma situação de sobrevivência: primeiros socorros, orientação, protecção, hidratação, alimentação... Fazê-lo com diferentes tipos de equipamento, ou sem nenhum. Para o efeito, pode usar-se como menmónica a regra dos 3: 3 minutos sem respirar, 3 horas sem protecção ao frio, 3 dias sem beber, 3 semanas sem comer (pode ainda acrescentar-se mais uma, 3 meses sem comunicar).
Depois disso, há que construir o kit com os utensílios mais básicos, versáteis e familiares, sempre sob um lema muito sensato:
"Quanto mais levarmos na cabeça, menos levamos na mochila!"
Preparemo-nos assim, segundo a pirâmide da sobrevivência:




quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PSICOLOGIA


Toda a gente constitui uma potencial vítima e ninguém está preparado para todas as situações!
Como tudo na vida, por muitos planos e preparação existentes, há sempre cerca de 5% de tudo que está entregue ao acaso. Há sempre algo que não controlamos. Um conjunto de pormenores que, quando juntos, representam uma nova condição. Um nevoeiro que se levanta, exactamente no momento em que passamos no local que não conhecemos tão bem, ou numa altura em que temos de atravessar um mato mais denso, ou numa zona de correntes. Uma vez que fui mergulhar a L’Startit, Espanha, numa ilha a 3 milhas da costa, saímos ao 3º dia no barco de um guia experiente que fazia aquela viagem à anos e várias vezes por dia. No exacto momento em que saímos do porto, levantou-se um nevoeiro que não se via 5 metros à frente. Ao mesmo tempo, ocorreu algo que ninguém soube explicar: o GPS avariou e a viagem passou a fazer-se pela bússola do barco. Era só rumar a Este e encontraríamos a ilha. Porém, durante 1 hora seguimos à deriva pois a bússola indicou tudo, menos a ilha. Coincidência, naquele dia, mais ninguém tinha uma bússola no barco. Ninguém tinha explicação! Até que avistamos a costa, seguimos até ao porto, pegamos noutro GPS e outra bússola e em 20 minutos estávamos ancorados na ilha. Tudo nem chegou a ser um susto, mas transporte-se a situação para gente menos experiente e num local mais afastado da costa e o desfecho poderia ser outro. Isto para dizer que devemos assumir que o acaso está sempre presente e que, por isso, a primeira forma de nos prepararmos, é analisando e treinando a nossa psicologia. O simples facto de sabermos o que nos poderá acontecer psicologicamente (e o que já aconteceu a outros sobreviventes) é uma enorme ajuda na hora em que nos sentirmos cansados, famintos, sedentos, feridos, sozinhos e a nossa moral começar a baixar (o que pode acontecer ao ponto de perdermos a vontade de viver), pois vai permitir que combatamos esses sentimentos com alguma razão, colocando em prática o que lemos e/ou treinamos. O exército dos Estados Unidos da América recomenda as seguintes capacidades para o sucesso em sobrevivência:


Capacidade de concentração
Capacidade para improvisar
Capacidade de vivermos connosco próprios
Capacidade de adaptação a uma situação
Capacidade de nos mantermos calmos
Capacidade de ser optimista, enquanto, ao mesmo tempo nos preparamos para o pior
Capacidade de compreendermos os nossos próprios medos e preocupações, lidar com eles e superá-los.



Assim deixo aqui duas mnemónicas para nos ajudar a raciocinar e reagir numa situação de sobrevivência.



STOP
S
top, don’t panic
Think about the situation
Orientate, try to understand where you are
Plan, define the priorities and start to build a solution