segunda-feira, 24 de março de 2008

Um nome


Para quem se inicia nas actividades ao ar livre, em especial as que comportam algum risco, afastamento da civilização, ou requerem alguma compatibilidade com a Natureza, deve preparar-se para o efeito. Deve pensar nos riscos que possa correr, desde uma entorse, uma indigestão, até à lesão mais grave ou a perder-se por completo. E quando digo isto, não o faço para que o aventureiro pense apenas na sua pessoa. Mesmo o mais presunçoso, pode ver o seu dia complicado pela asneira ou azar de um outro elemento do grupo. Por isso, em ambientes menos "familiares", devemos também preparar a segurança e divertimento do grupo, pois de nós ele poderá depender. É o que chamo de teoria do BA, ou seja, pensar primeiro no plano B antes de pensar no A. Isto pode ser inato, mas também treinado com muito sucesso. Se quisermos, podemos incorporar esta teoria e métodos no nosso dia a dia, empresa, família, etc. Se estamos preparados para um ambiente hostil, onde dominamos questões como pânico, sede, fome, liderança, paciência, então no nosso ambiente podemos estar seguros que temos sucesso.

O bom exemplo do que disse, é o do Reino Unido, onde a tradição de convivência com a Natureza é larga e bem enraizada. No Reino Unido existe um conceito, conjunto de técnicas e métodos, que traduzido à letra se designam por: "artesanato do mato" (Bushcraft), mas que vou designar por Artes Naturais. Muito entusiastas de ingressões no mato, aprendem e treinam estas técnicas por forma a se prepararem para eventuais complicações, ou simplesmente pelo facto de melhor interagirem com a Natureza. Qual a melhor maneira de o fazer, se não falar a sua linguagem e utilizar o que ela nos dá?! Isto acontece por todo o mundo. Já dizia um chileno que conheci: tudo o que dedicamos a algo que acreditamos, ela devolve-nos em dobro.

Mas quando falamos em Bushcraft, é impossível fazê-lo sem mencionar o nome do seu maior praticante e divulgador: Ray Mears. Este homem, explora as artes naturais por todo o mundo, exibe-as e ensina-as a pessoas que vão do mais simples campista até aos soldados das tropas especiais. Deixo aqui partes da introdução de um dos seus livros:

"Everyone who visits wild places will benefit from bushcraft knowledge. What could be more natural than to recognise the wild things arround us and find food, shelter, fire and water? (...) Knowledge is invisible and weighs nothing. Be mindful that in times of crisis if you can find shelter in the forest, rub sticks for fire and know which plants around can be eaten you will have a home, hearth and a meal."

O espaço


Basta uma pequena viagem de carro para nos darmos conta de que ainda há muito espaço no planeta...
Entre núcleos celulares formados pelas cidades e pelos seus aglomerados, para além das vilas e aldeias e das superfícies cultivadas que as rodeiam, quanto espaço! (Pierre Esclasse, 2004)
Quem já não saiu de casa com um rumo e foi manipulado por um "domingueiro", tendo estragado o seu dia, bem como o seu humor. Pessoas que reféns das suas limitações tomam as estradas de assalto e os demais condutores como seus próprios reféns. Terrível.
Todavia, escrevo para aqueles que vêm terra para além do cinzento, do acessível a carro, mota, ou até bicicleta. Os que se apercebem que a Terra é de todos, mas a Natureza é só para alguns, os que se aventuram. O cheiro a terra, a rio, mar, o verde, o som, a cor, o frio, o calor... a liberdade...
Não vou comentar esta paralisia colectiva de não sair do trilho, nem, por outro lado, os que de repente se acham robustos arqueólogos ou exploradores e se lançam à toa. Também, não vou incidir nos assuntos que tão frequentemente são abordados por escolas, empresas, associações e clubes de montanhismo, náutica ou aviação. Assuntos de orientação básica, cuidados gerais, legislação, entre outros.
Aponto à prevenção, à premeditação, à perspicácia e ao treino, como pilares de sustentação em situações de sobrevivência. Sobrevivência como extremo, usufruto da Natureza, nos seus mais diversos domínios, como prática corrente (profissional ou lúdica).
A necessidade faz o engenho. Se observarmos (basta em Portugal) a forma como técnicas e instrumentos, simples e brilhantes, são legados por gerações e ainda usados nos dias de hoje, vemos que a solução está sempre perto de nós.
Por outro lado, se dominarmos o conhecimento e prática dessas técnicas e instrumentos, além de mais confiantes e descontraídos, conseguimos, com menos, fazer muito mais: "quanto mais levarmos na cabeça, menos levamos na mochila"
Gostava de, com isto, sensibilizar quem me lê para estar mais atento e interagir com a Natureza, usando-a e respeitando-a. Seguir os que dela dependem, pois são eles que detêm o conhecimento que não vem nos livros, ou nos computadores. E não esqueçam, a Natureza tem os seus próprios meios de fazer as coisas, sejamos inteligentes e sigamos com ela...

Material

"É um erro permitir a qualquer objecto mecânico que compreenda que temos pressa"

sábado, 22 de março de 2008